quinta-feira, 16 de abril de 2009

Artigo da Revista CIÊNCIA HOJE

Genes colocam coração no lado esquerdo

Os Nodal ajudam à localização adequada do órgão

:: 2008-11-04

Nodal ajudam a criar a assimetria necessária
Nodal ajudam a criar a assimetria necessária
Uma equipa de investigadores da Universidade de Harvard de que faz parte a portuguesa Inês Baptista conseguiu identificar os genes e as interacções celulares envolvidos no posicionamento correcto do coração no lado esquerdo do corpo. A descoberta, divulgada numa edição especial da revista britânica Development Dynamics, permite compreender melhor o desenvolvimento embrionário do coração e abre caminho a que um dia se possam evitar casos de anomalias cardíacas congénitas.


"Embora o nosso corpo e o de todos os vertebrados seja simétrico no exterior, no seu interior existe assimetria", explicou a primeira autora do estudo, a investigadora portuguesa Inês Baptista, que está a fazer doutoramento na Universidade de Harvard (Reino Unido). "Os órgãos internos, tais como o coração, o intestino ou o pâncreas são assimétricos na sua forma e na maneira como estão distribuídos na cavidade abdominal, estando uns do lado esquerdo e outros do lado direito", acrescentou.

Porém, regista-se uma elevada morbidez e mortalidade associadas a problemas relacionados com um posicionamento incorrecto do coração, nomeadamente com a lateralidade esquerda-direita, que se devem a defeitos congénitos complexos. Esta incidência, como refere a investigadora, indica que o coração "é extremamente susceptível a alterações no estabelecimento da assimetria durante o desenvolvimento do embrião logo nos primeiros passos da sua formação".

Esta equipa de investigadores mostrou que há um conjunto de genes, chamados Nodal, que garantem que o coração tenha a assimetria correcta, indispensável ao seu bom funcionamento. "Para isso, os Nodal dão instruções às células sobre a velocidade a que estas se devem mover e em que direcção devem ir", afirmou Inês Baptista. "Esses genes são expressos no embrião só no lado esquerdo e fazem com que o coração vá para o lado esquerdo".

No estudo, Inês Baptista, Alexander Schier e colegas da Universidade de Harvard analisaram a expressão dos genes Nodal durante o desenvolvimento do coração do peixe zebra. Para isso, usaram um potente microscópio para filmar em tempo real esse desenvolvimento em embriões de peixe zebra modificados para exprimir a proteína florescente verde nas células musculares do coração.

Com este marcador luminoso e sendo o embrião transparente, foi possível seguir as células individualmente à medida que o coração se foi desenvolvendo, determinando assim a influência dos referidos genes no processo. Ao compararem então animais com ou sem genes Nodal activos, os investigadores constataram que esses genes regulam a velocidade e a direcção daquelas células e, não estando a funcionar, que essas células se deslocam de forma mais lenta e irregular, e perdem o seu comportamento assimétrico, levando o coração a colocar-se numa posição simétrica, ou seja, no meio do corpo.

Licenciada em Biologia pela Universidade de Lisboa em 2002, Inês Baptista foi seleccionada no ano seguinte para o programa Gulbenkian de Doutoramento em Biomedicina e foi nesse âmbito que desenvolveu esta investigação, primeiro no Instituto Gulbenkian de Ciência e depois no laboratório de Alexander Schier na Universidade de Nova Iorque e na Universidade de Harvard.

Escreve actualmente a sua tese de doutoramento, que defenderá na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

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